E as explicações continuam:
Você já reparou que o adolescente tropeça em tudo e costuma se olhar com frequência nos espelhos? Isso se deve porque uma área conhecida como giro pós central não acompanhada o crescimento acelerado do adolescente e fica meio “confuso”. Essa região, que pertence ao chamado córtex parietal, que fica no topo na cabeça, um pouco mais para trás do que a posição tradicional de uma tiara, é responsável pelas representações que o cérebro faz do corpo, ou seja, desde as mãos, os pés, os olhos, a boca, ou seja, tudo aquilo que se faz questão de sentir ou controlar é registrado aí. Na infância, o giro pós central tem tempo para se adaptar ao gradativo crescimento das crianças, mas como na adolescência as coisas são diferentes, é bastante comum vê-los tropeçando nas próprias pernas por um erro de cálculo cerebral com relação a seus membros ou mesmo fiquem se olhando no espelho, como citado logo no início. Aliás, está aí uma boa estratégia: espelhos, pois permite que os estímulos visuais ajudem o cérebro a se adequar às modificações no corpo.
As regiões posteriores, que tem função sensorial e recebem os sentidos e os processam antes de encaminhar o resultado para as regiões frontais do encéfalo, são as primeiras a passarem pelo processo de enxugamento sináptico e amadurecimento. Por sua vez, o córtex pré frontal, localizado logo atrás da testa, é a última área a amadurecer e tem relação com os comportamentos tipicamente de adultos, como capacidade de planejamento, concentração, inibição de impulsos e empatia.
Com o amadurecimento dessa área o adolescente vai se aproximando do mundo adulto, embora de maneira não muito suave. Nessa fase, começam a se desenvolver o comportamento autorreflexivo, a autorregulação e o raciocínio, levando a uma maior consciência crítica de si e dos outros. Por isso, eles tendem a ver incongruências no mundo dos adultos. Se, por um lado, a maturidade emocional do adolescente oscila, é nessa fase também que ele passa a possuir ferramentas que o preparam para a vida adulta. Surge a capacidade de tomar decisões, julgar e planejar. Falando nisso, a amígdala, que tem importante relação com as emoções, é a sede de sentimentos primitivos de medo e raiva. Ao processarem informações emocionais, os adolescentes tendem a contar mais com a amígdala, ao contrário dos adultos, que dependem mais do córtex pré-frontal. E falando no pré-frontal, lá existe uma região chamada córtex orbitofrontal (localizada atrás dos olhos), que é a última da última a amadurecer e promove as capacidades de usar emoções para nortear decisões e de criar empatia pelos outros – características fundamentais da vida adulta.
Bom, sabe aquele jeito de pensar e fazer dos adolescentes sem medir as consequências, que vemos e nos perguntamos “é isso mesmo produção?”. Pois bem, o amadurecimento tardio do córtex pré frontal, bem como alguma das outras mudanças que vimos por aqui pode nos ajudar a entender esse e outros comportamentos típicos dos adolescentes.
Visto tudo isso, agora é a sua hora de colocar o pré frontal para funcionar: será mesmo que essa garotada está somente querendo nos irritar? Claro que há uma série de atitudes que não são justificadas e que estão fortemente relacionadas com o meio e as próprias particularidades de cada um, mas se pudermos levar todas essas informações, características dessa faixa etária em consideração, eu garanto que o seu olhar para o adolescente pode mudar e consequentemente a vida dele também.
Até logo 🙂
Referência:
NOGUEIRA, S. As idades do cérebro. Revista Galileu. Disponível em <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG77438-7855-191-2,00-AS+IDADES+DO+CEREBRO.html> Acesso em 30 de maio de 2018.
STAM, G. Como funciona o cérebro do adolescente. Revista Educação. Disponível em < http://www.revistaeducacao.com.br/como-funciona-o-cerebro-do-adolescente/> Acesso em 30 de maio de 2018.